terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Prefeito e vice têm mandatos cassados


Decisão torna inelegível por oito anos; juíza ainda determinou novas eleições na cidade.

  
Prefeito de Mariana, Duarte Júnior (PPS), e o vice, Newton Godoy (PSD), tiveram os 
mandatos cassados nesta segunda-feira (20) em dois processos de improbidade administrativa,
 segundo o Ministério Público de Minas Gerais. A decisão é de primeira instância e dela cabe
 recurso.Em uma das decisões, a juíza Marcela Decat determinou ainda a anulação 
dos votos recebidos pela chapa, a inelegibilidade do prefeito e da mulher dele por oito anos, 
além da realização de novas eleições na cidade da Região Central do estado e o pagamento
 de multa. Na outra decisão, a magistrada determinou as mesmas medidas. 
Os vereadores Geraldo Sales (PDT) e João Bosco (PP) foram absolvidos.
Duarte Júnior é investigado pela Operação Primaz de Minas, que apura suposta fraude
 em licitação para prestar serviço de transporte ao município. A promotoria investiga
 também um esquema em que material de construção era doado em troca de votos durante as 
últimas eleições municipais.
O G1 entrou em contato com a assessoria da prefeitura e aguarda um retorno.
 A administração municipal informou que Duarte Júnior está em uma reunião em Brasília.
 Em vídeo postado em rede social, Júnior afirmou que recebeu a decisão com tranquilidade e
 quer vai apresentar a defesa ao Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG).
“Vamos tentar agora demonstrar ao TRE que não houve da nossa parte dolo ou culpa em
 relação à distribuição de materiais de construção, tentar demonstrar que existia um
 programa que permitia. Queria dizer a todos os marianenses que continuo tranquilo, sóbrio em
 relação às minhas decisões, que vou trabalhar até o último dia pela minha cidade, que não
 tenho apego ao cargo, que respeito a independência dos poderes”, afirmou o chefe do Executivo.
O prefeito disse a ida a Brasília é para discutir a utilização de recursos da Fundação 
Renova. Na mensagem, ele se despede dizendo que retorna nesta quarta-feira (22)
 para dar continuidades aos preparativos do carnaval na cidade mineira.
O vice-prefeito também se pronunciou em uma rede social. “Uma sentença não muda minha 
alma, não abala o meu espírito, mas fere o meu coração, pois mantenho as minhas mãos
 limpas e uma fé inabalável na justiça divina e na vontade do meu povo de Mariana”, 
escreveu Newton Godoy.
Na decisão, a magistrada lembrou o rompimento da barragem de Fundão, que destruiu o
 distrito de Bento Rodrigues, e atingindo várias outras localidades. O desastre ambiental, 
considerado o maior e sem precedentes no Brasil, deixou 19 mortos.
“Em nenhum momento da história de Mariana era tão esperada uma conduta diferente do 
prefeito. A cidade, assolada por uma crise financeira sem precedentes e sofrendo com o maior
 desastre ambiental já ocorrido em solo brasileiro, viu seus recursos financeiros serem
 distribuídos indistintamente entre vários eleitores, tudo como forma de alavancar a candidatura
de Duarte”, destacou a juíza.
O promotor Guilherme Meneghin explicou ao G1 que o prefeito e o vice só deixam o
 cargo caso o Tribunal Regional Eleitoral mantenha a decisão em pelo menos um dos processos.
Segundo o promotor, se a decisão do TRE ocorrer antes do dia 31 de dezembro de 2018,
 novas eleições terão que ser feitas na cidade. Caso o tribunal decida depois da data, 
o presidente da Câmara Municipal assume o cargo temporariamente e uma eleição interna é
 feira na Casa para a escolha do novo prefeito.

Suposta fraude em licitação

Segundo o MP, após vencer, em dezembro de 2015, uma licitação para prestar serviço de
 transporte à prefeitura, a Cooperativa de Transporte Urbano e Rural (Coopertur) teve o 
contrato no valor de R$ 36.551.991,62 rescindido pelo secretário Edvaldo de Andrade.
 Conforme a promotoria, em seguida, o chefe da pasta contratou, de modo ilegal, a
 Cooperativa dos Empreendedores em Transporte Municipal, Intermunicipal e
 Interestadual de Passageiros e Cargas (Coopercar).
De acordo com o promotor Guilherme Meneghin, a Coopercar teve o Cadastro Nacional 
de Pessoas Jurídicas (CNPJ) registrado menos de um mês antes de sua contratação. Ainda conforme a promotor, o capital social da cooperativa, de R$ 20 mil é “totalmente incompatível” com a 
dimensão dos serviços contratados.
O Ministério Público informou que a Coopertur conseguiu, por meio de uma liminar, 
restabelecer o contrato. “Verificou-se que o denunciado tentou afastar ilicitamente a licitante
 vencedora e tentou contratar a licitante de seu interesse, mediante dispensa indevida de 
licitação, exercida por meio das manobras ilegais e fraudulentas”, descreveu Guilherme Meneghin.
Mais tarde, Edvaldo de Andrade teria dito ao gestor da Coopertur que “para a cooperativa
 funcionar” teriam que sair alguns funcionários e prestadores de serviços. Pessoas 
designadas pelo secretário foram contratadas para assumir os cargos, segundo o MP. Ainda de 
acordo com o órgão, há indícios de que o prefeito de Mariana, Duarte Júnior, sabia da fraude.

Suspeita de compra de votos

O Ministério Público aponta ainda que o prefeito, que disputou as últimas eleições 
municipais, participava de um esquema em que material de construção era doado em troca de
 votos. Segundo as investigações, vereadores da base de Duarte Júnior enviavam uma
lista com possíveis beneficiários de telhas, cimento, caixas d’água e tijolos à secretária de
 Assistência Social de Mariana, Regiane Maria de Oliveira Gonçalves, mulher do prefeito. 
A doação do material foi observada entre os meses de junho a agosto de 2016.
De acordo com o MP, em 21 casas foram constatadas a entrega do material de construção.
 Duarte Júnior, Regiane Maria de Oliveira Gonçalves, os beneficiários e os vereadores
 João Bosco e Geraldo Sales, o Bambu, são acusados de improbidade administrativa, 
captação ilícita de sufrágio e abuso de poder.
O prefeito Duarte Júnior negou o esquema para manipular licitações. Sobre a denúncia de 
compra de votos, o prefeito disse que a lei orgânica e as diretrizes orçamentárias do município permitem que a prefeitura beneficie famílias carentes com a doação de materiais de construção.

 FONTES G1Por Pedro Ângelo, G1 MG, Belo Horizonte

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